Memórias e História indígena em Vitória da Conquista: A construção de diferentes narrativas sobre a origem da cidade de Vitória da Conquista

O que mantém um determinado grupo vivo, certamente não é a inexistência da morte e, sim,

a preservação da sua memória, pois enquanto um grupo é lembrado, ele permanece vivo. A nossa memória seleciona aquilo que deve guardar e o que deve esquecer, mas quem realiza a seleção da memória social? Que interesses envolvem essa seleção?

Trecho do texto de Edinalva Padre – Índios: eles viveram aqui? O apagamento da memória indígena no planalto da Conquista. Ymboré, Pataxó, Kamakã. A Presença Indígena no Planalto da Conquista. p. 44

Atividade proposta pode ser aplicada dentro dos conteúdos de História do Brasil, para turmas de 6°, 7° e 8° e 9° ano, a depender da abordagem que se pretende, adaptando-a ao conteúdo trabalhado, dentro do contexto de povos originários antes ou durante o processo de expulsão, escravização e dizimação dos povos indígenas. Esta aula oficina está organizada em 03 ações interrelacionadas, a partir da apresentação de diferentes narrativas sobre a história da cidade de Vitória da Conquista. Prevista para ser desenvolvida em 04 aulas.

  • HABILIDADES – BNCC/REFERENCIAL CURRICULAR – CURRÍCULO BAHIA

Lista de habilidades possíveis, de acordo com o ano/série

    • BNCC: 6º ano: (EF06HI05); (EF06HI08); (EF06HI14)
    • BNCC: 7º ano: (EF07HI03); (EF07HI09)
    • DCRB: 7º ano: (EF07HI03BA)
    • BNCC: 8º ano: (EF08HI14); (EF08HI27)
    • BNCC: 9º ano: (EF09HI05); (EF09HI07); (EF09HI26); (EF09HI36)
 
  • OBJETIVOS

a) Identificar a construção de diferentes narrativas sobre a origem da cidade de Vitória da Conquista.
b) Compreender as relações entre a preservação da memória e a construção da História.
c) Conhecer as diferentes versões sob um mesmo contexto histórico.
d) Elaborar novas versões sobre a formação da cidade de Vitória da Conquista.

  • CONCEITOS

Conceitos a serem discutidos em sala de aula:
a) Memória.
b) História.

  • METODOLOGIA
    • Recursos

a) Textos impressos.

    • Estratégias de ensino

Ação 01: Estabelecer uma discussão entre memória e História. A propagação de narrativas dos agentes coloniais e seus descendentes propiciou a produção de uma história que silenciou e excluiu a memória da presença indígena no Planalto da Conquista. Os textos trazem diferentes versões sobre a formação da cidade.

Material de apoio: História e Memória – Livro digitalizado.
Le Goff, Jacques, 1924 História e memória. tradução Bernardo Leitão … [et al.] — Campinas, SP Editora da UNICAMP, 1990. (Coleção Repertórios)
https://www.ufrb.edu.br/ppgcom/images/Hist%C3%B3ria-e-Mem%C3%B3ria.pdf

Ação 02: Distribuição dos textos para leitura. Os alunos devem observar as semelhanças e diferenças entre os textos.

Ação 03: Socialização das respostas dos alunos.

Material de apoio: “No tempo dos antigos índios”: memória e identidade indígena no Planalto da Conquista em fins do Século XX e princípios. do XXI.
https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/40190/1/2015_art_rfoliveira.pdf

  • AVALIAÇÃO

Avaliar a percepção dos alunos da memória como elemento de construção da história.

  • REFERÊNCIAS

AGUIAR, Edinalva Padre et at. Ymboré, Pataxó, Kamakã. A Presença Indígena no Planalto da Conquista. Museu Regional de Vitória da Conquista/ Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, 2000 (Série Memória Conquistense).

BAHIA. Documento Curricular Referencial da Bahia para Educação Infantil e Ensino
Fundamental. Superintendência de Políticas para Educação Básica. Salvador: Secretaria da Educação, 2018.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.

SOUSA, Maria Aparecida de. A Conquista do Sertão da Ressaca: povoamento e posse da terra no interior da Bahia. Vitória da Conquista: Edições UESB, 2001.

OLIVEIRA, Renata Ferreira de. Índios paneleiros do planalto da conquista: do massacre e o (quase) extermínio. Salvador: Sagga, 2020.

Texto 01: Trecho do livro Índios paneleiros do planalto da conquista: do massacre e o (quase) extermínio (p.33-34), de Renata Oliveira, sobre versão da vitória de João Gonçalves imposta aos índios Mongoyó extraída do livro de Tranquilino Torres, o Município da Vitória.

Assim é narrada habitualmente a história do Sertão da Ressaca* onde se originou o Arraial da Conquista: era noite quando os sertanista João Gonçalves da Costa e João da Silva Guimarães, acompanhados de seus 50 soldados, decidiram seguir os índios Mongoyó rumo ao oeste até alcançarem a Serra de Santa Inês*,onde encontraram vestígios do itinerário indígena. Portando archotes feitos de raízes resinosas, seguiram o trajeto até um lugar que haveria de se chamar “Batalha”, nome este que se deveu à luta que aí se travou entre índios e soldados. Às quatro horas da manhã, os sertanistas alcançaram os nativos e moveram-lhes guerra renhida. Não obstante, os seus companheiros, inferiores em número à “grande horda de bárbaros” abrandaram e pensaram em ceder a vitória aos índios, pois “as armas de fogo não suportavam mais o carregá-las que não explodissem”. Em meio à iminente derrota, João Gonçalves da Costa, “animando os seus companheiros, prometeu a Nossa Senhora das Vitórias elevar no lugar do triunfo, se vencesse, uma capela com aquela invocação”. Iluminados pela Santa, os homens lutaram corpo a corpo e, “manejando com denodo e vantagem o facão, conseguiram no fim de algumas horas, esplêndida vitória no lugar da própria aldeia”. Daí nasceu o Arraial da Conquista que, apesar de ter uma história tão edificante, “apenas a tradição a reproduz”.

Texto 02: Trecho do texto Índios: eles viveram aqui? O apagamento da memória indígena no planalto da Conquista – p.50-51, de Edinalva Padre, extraído do livro Ymboré, pataxó, kamakã. A Presença Indígena no Planalto da Conquista.

[…] fica claro que prevaleceu o discurso dos vencedores. Os índios sumiram da história do Planalto da Conquista; João Gonçalves é lembrado como heróico desbravador, e, mais do que isto, o civilizado lutando contra os “gentios bárbaros”, para fundar a nossa bela e redundante Vitória da Conquista. Os próprios nomes que marcaram os embates são Batalha, Sucesso, etc. Esses nomes pretenderam simbolizar o início de um novo tempo; um tempo de prosperidade e consolidação do domínio territorial. Diante dessa inversão cabe perguntar: prosperidade para quem? Domínio de quem? […]

Texto 03: Depoimento de Seu Adelino Oliveira colhido por Renata Ferreira de Oliveira em 2019 na comunidade de Ribeirão dos Paneleiros, zona rural de Vitória da Conquista. (capítulo 3, seção “Terra e memória” p.125)

Dessa guerra nasceu a Batalha, pois o grande batalhão foi na serra de Santa Inês. Os índios que sobreviveram ficaram nessa região que era imensa. Por isso a tarefa de João Gonçalves foi difícil. Depois da guerra, João Gonçalves teria ficado rico porque tomou as terras dos índios para ser o senhor. Ele se tornou possuidor da terra através de castigo porque naquele tempo não tinha eleição para ganhar ou perder. Por isso que ele achou que tinha que vencer dessa forma, por meio do sofrimento dos índios e da bravura dele. Por essa razão, lá ficou sendo Vitória da Conquista, o lugar dele e aqui Batalha, o lugar do índio que sobreviveu e escondeu na serra de Santa Inês.

Atividade: Leia o textos 01, 02, e 03 e responda no caderno as questões:

1. Qual é o assunto dos textos?
2. Os autores dos textos 1, 2 e 3 concordam ou discordam em relação à história da
formação da cidade de Vitória da Conquista?
3. Qual texto apresenta a história oficial da cidade? Por quê?
4. Quais dos textos discordam da versão oficial da história de Vitória da Conquista. O
que há de semelhante entre estes textos?
5. Que conclusões podemos chegar em relação à história da cidade?

O objetivo principal dessa página é disponibilizar um material didático acessível a professores da educação básica que queiram trabalhar com temáticas de história local.

2022 – Todos os direitos reservados a Conquistória.

Desenvolvido por .devista