Os mecanismos empregados na transformação da argila em artefatos identificam a recriação
e ressignificação, componentes da tradição de um grupo, preservada em cada objeto
produzido, cujo significado vai além da definição de artesanato, mas revela em sua manifestação intrínseca, a composição de uma identidade […]
Trecho do texto Renata Oliveira, extraído de seu trabalho monográfico. OLIVEIRA,
Renata Ferreira de. Resistência e Identidade Indígena na Batalha: memória e
trajetória de comunidades rurais no Planalto da Conquista. Vitória da Conquista,
2009. monografia (graduação em História). Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia.
Atividade proposta pode ser aplicada dentro dos conteúdos de História do Brasil, para turmas de 6°, 7° e 8° e 9° ano, a depender da abordagem que se pretende, adaptando-a ao conteúdo trabalhado, dentro do contexto de povos originários antes ou durante o processo de expulsão, escravização e dizimação dos povos indígenas.
Esta aula oficina está organizada em 03 ações interrelacionadas, a partir da discussão da presença indígena em Vitória da Conquista e suas manifestações artísticas e culturais. Prevista para ser desenvolvida em 04 aulas.
HABILIDADES – BNCC/REFERENCIAL CURRICULAR – CURRÍCULO BAHIA
Lista de habilidades possíveis, de acordo com o ano/série
a) Identificar a construção de diferentes narrativas sobre a origem da cidade de Vitória da Conquista.
b) Compreender as relações entre a preservação da memória e a construção da História.
c) Conhecer as diferentes versões sob um mesmo contexto histórico.
d) Elaborar novas versões sobre a formação da cidade de Vitória da Conquista.
Conceitos a serem discutidos em sala de aula:
a) Identidade.
b) Patrimônio Histórico material e imaterial.
c) Tombamento.
a) Data show, Textos impressos, imagens impressas.
Ação 01: Distribuir textos sobre Patrimônio Histórico e Cultural, patrimônio material e imaterial. Leitura colaborativa do texto buscando conceituar patrimônio material e imaterial.
Material de apoio:
Lemos, C.A.C. O que é patrimônio histórico. São Paulo: Brasiliense, 1982.
IPHAN. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico nacional. http://portal.iphan.gov.br/
OTTO, Cláudia. Memória e patrimônio no ensino da história local para os anos iniciais da educação básica.
Ação 02: Distribuir aos grupos de alunos imagens com as figuras de panelas de barro e as esculturas produzidas por Gilvandro Oliveira. Solicitar aos alunos que analisem as imagens, com descrição dos elementos que aparecem e o “diálogo” que estabelecem com os textos presentes nas fotos.
Ação 03: Pedir aos alunos que respondam a pergunta: Que relações podemos estabelecer entre patrimônio e as peças fabricadas nas comunidades Aldeia Sol Nascente e Batalha de Vitória da Conquista? Mesmo não sendo tombadas, elas podem ser consideradas patrimônio?
Socialização das respostas dos alunos.
A professora/professor fará observações quanto ao envolvimento dos alunos na atividade além de solicitar que cada um expresse verbalmente suas impressões sobre o tema.
BAHIA. Documento Curricular Referencial da Bahia para Educação Infantil e Ensino Fundamental. Superintendência de Políticas para Educação Básica. Salvador: Secretaria da Educação, 2018.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
OLIVEIRA, Renata Ferreira de. Índios paneleiros do planalto da conquista: do massacre e o (quase) extermínio. Salvador: Sagga, 2020.
OLIVEIRA, Renata Ferreira de. Resistência e Identidade Indígena na Batalha: memória e trajetória de comunidades rurais no Planalto da Conquista. Vitória da Conquista, 2009. Monografia (graduação em História). Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
O que é patrimônio histórico cultural?
Quando um elemento cultural é considerado patrimônio histórico cultural por algum órgão ou entidade especializado no assunto, dizemos que ele foi “tombado”* como patrimônio. Podem ser bens considerados patrimônio histórico cultural: obras de artes plásticas (pinturas, esculturas, ilustrações, tapeçarias e artefatos artísticos históricos em geral); construções e conjuntos arquitetônicos (cidades, casas, palácios, casarões, jardins, monumentos); festas e festividades; músicas; elementos culinários, entre outros representantes das diversas culturas ainda existentes ou que já existiram no mundo. O que determina se um bem cultural é ou não patrimônio histórico cultural são a sua relevância histórica para a formação identitária da cultura de um povo e a importância da preservação desse bem para a consequente manutenção cultural daquele povo. Por estarmos diariamente em contato com aqueles bens culturais, nós desenvolvemos certo apreço pela sua preservação devido ao fato de que esse convívio é fator decisivo para a formação das nossas identidades.
*Tombamento: O tombamento é o instrumento de reconhecimento e proteção do patrimônio cultural mais conhecido, e pode ser feito pela administração federal, estadual e municipal. Em âmbito federal, o tombamento foi instituído pelo Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, o primeiro instrumento legal de proteção do Patrimônio Cultural Brasileiro e o primeiro das Américas, e cujos preceitos fundamentais se mantêm atuais e em uso até os nossos dias.
*Responsabilidade e fiscalização – Qualquer pessoa física ou jurídica poderá solicitar o tombamento de qualquer bem ao Iphan, bastando, para tanto, encaminhar correspondência à Superintendência do Iphan em seu Estado, à Presidência do Iphan, ou ao Ministério da Cultura. Para ser tombado, o bem passa por um processo administrativo que analisa sua importância em âmbito nacional e, posteriormente, o bem é inscrito em um ou mais Livros do Tombo. Os bens tombados estão sujeitos à fiscalização realizada pelo Instituto para verificar suas condições de conservação, e qualquer intervenção nesses bens deve ser previamente autorizada.
Sob a tutela do Iphan, os bens tombados se subdividem em bens móveis e imóveis, entre os quais estão conjuntos urbanos, edificações, coleções e acervos, equipamentos urbanos e de infraestrutura, paisagens, ruínas, jardins e parques históricos, terreiros e sítios arqueológicos. O objetivo do tombamento de um bem cultural é impedir sua destruição ou mutilação, mantendo-o preservado para as gerações futuras.
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/126
Importância do patrimônio histórico cultural
Para pensar na importância do patrimônio histórico cultural e de sua preservação, basta fazer um exercício de imaginação: imagine que você tenha nascido em um local completamente isolado, sem desenvolvimento linguístico, sem alteração do ser humano na paisagem e sem interação com outros seres humanos. Nesse exercício imaginário, você não seria apresentado a uma cultura. Você não aprenderia a falar, pois não existem outros falantes ali, você provavelmente não alteraria o meio, pois ele não foi alterado antes de você e não haveria como aprender técnicas que permitem essa mudança. Você não teria cultura. É difícil imaginar isso, pois nós nascemos e crescemos em ambientes culturais. Do mesmo modo, vamos adquirindo e incorporando elementos participantes da cultura em que estamos inseridos para nosso modo de viver, internalizando-os a ponto de tratá-los como quase naturais. Se um bebê brasileiro é levado para o Japão ainda pequeno e criado lá, nos moldes e costumes de lá, ele vai internalizar em si a cultura japonesa. Se um paulistano é levado quando pequeno para uma aldeia indígena e criado como as crianças indígenas, ele desenvolverá uma cultura condizente com a cultura indígena dessa aldeia, e não com a de seu local de nascimento. Isso atesta que a cultura molda as nossas personalidades, colocando-nos uma identidade cultural. Do mesmo modo, o brasileiro que foi criado no Japão ou o paulistano que foi criado na tribo indígena, se tiverem noção de sua origem, podem desenvolver algum sentimento de pertencimento à sua cultura original, pois há uma identidade de cada cultura que possibilita o sentimento de valorização. A valorização do patrimônio histórico cultural é a valorização da identidade que molda as pessoas. Por isso, preservar as paisagens, as obras de arte, as festas populares, a culinária ou qualquer outro elemento cultural de um povo, é manter a identidade desse povo.
Tipos de patrimônio cultural
Patrimônio histórico material
É o conjunto de bens materiais, físicos, que possuem importância histórica para a formação cultural da sociedade. Podemos destacar como bens materiais obras de arte, como pinturas e monumentos, cidades, prédios e conjuntos arquitetônicos, parques naturais, sítios arqueológicos, enfim, tudo aquilo que existe materialmente e possui algum valor histórico e cultural que o dignifica de ser preservado e lembrado.
Patrimônio histórico imaterial
Esse conceito é mais abrangente, pois não requer a existência material e imediata de um bem para reconhecê-lo como patrimônio. Podem ser considerados patrimônios históricos culturais imateriais o idioma e os dialetos, a culinária, as festas populares, os rituais religiosos, os conjuntos de ditos populares, entre outros elementos.
https://brasilescola.uol.com.br/curiosidades/patrimonio-historico-cultural.htm
“[…] Agora, prá mim um documento vivo da nossa ancestralidade, é a panela de barro, ela é uma cultura viva, é respeitar os antepassados que pisaram naquela terra. Ver meu povo fazendo panela, eu vejo um ritual indígena, do artefato, da mulher, do homem ir pegar lenha, de queimar.”
(depoimento de Gilvandro Oliveira colhido por Renata Oliveira em 2009. Extraído da
monografia de Renata Oliveira.OLIVEIRA, Renata Ferreira de. Resistência e Identidade Indígena na Batalha: memória e trajetória de comunidades rurais no Planalto da Conquista. Vitória da Conquista, 2009. monografia (graduação em
História). Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. p.145 )
Panelas fabricadas no Território indígena da Batalha, Ribeirão dos Paneleiros, zonal
rural de Vitória da Conquista.
“[…] Eu acho que os espíritos de meus antepassados querem que eu retrate esses traços, que é para pessoas jovens, pesquisadores, historiadores, sentirem essa obra e serem tocados prá terem mais responsabilidade com a História. Eu me emociono muito ao falar de minha história e ao mostrar minhas obras. Porque essa ancestralidade, pertencer à história dessa cidade. Não só daqui, mas do Brasil…Eram os primeiros habitantes, e ter esse sangue pulsando nas minhas veias, isso é muito importante prá mim”.
(depoimento de Gilvandro Oliveira colhido por Renata Oliveira em 2009. Extraído da monografia de Renata Oliveira.OLIVEIRA, Renata Ferreira de. Resistência e Identidade Indígena na Batalha: memória e trajetória de comunidades rurais no Planalto da Conquista. Vitória da Conquista, 2009. monografia (graduação em História). Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.p.145 )
Gilvandro Gonçalves de Oliveira é artista plástico, indígena paneleiro da comunidade de Batalha em Vitória da Conquista- Bahia. Licenciado em História pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, UESB.
“O artesanato indígena está presente na essência e no cotidiano do povo brasileiro. Nós indígenas, muitas vezes sobrevivemos e sustentamos nossas famílias através do artesanato que confeccionamos, e diante da necessidade de atualização, aperfeiçoamos nossos trabalhos, para levar até você, produtos que possam ser utilizados em seu cotidiano, dando praticidade e charme ao seu estabelecimento ou casa, como produtos que podem ser usados diariamente ou como itens de decoração, como nossa cestaria, cerâmica e utensílios de madeira”
(@camacanmongoyo, publicado em 13 de outubro de 2020 – acesso em 8/2/21)
Panelas fabricadas na Aldeia Reserva Sol Nascente, zona urbana de Vitória da Conquista que se autodenomina Camacan-Mongoyo.
“Eu olho prá mim, olho pro meu pai, olho prás características do meu irmão, de minha mãe, olho prás pessoas que já morreu, se tem foto, e naturalmente vem a fisionomia dos nativo, da ancestralidade, mais ou menos assim que vem as características das minhas peças”.
(depoimento de Gilvandro Oliveira colhido por Renata Oliveira em 2009. Extraído da monografia de Renata Oliveira. OLIVEIRA, Renata Ferreira de. Resistência e Identidade Indígena na Batalha: memória e trajetória de comunidades rurais no Planalto da Conquista. Vitória da
Conquista, 2009. monografia (graduação em História). Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. p.144 )
Gilvandro Gonçalves de Oliveira é artista plástico, indígena paneleiro da comunidade de Batalha em Vitória da Conquista- Bahia. Licenciado em História pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, UESB.
“[…] Mas apesar […] prá mim, trabalhar com o barro, é uma tradição, né? Que a gente vem desde os avô, bisavô, minha mãe. E aí eu sei que é uma tradição que a gente tem uma origem. É uma origem assim, porque a gente sabe que é uma descendência, fazer que nem a música: somo filho de índio. Aí veio assim essa tradição e veio parar até mim. Aí eu to fazendo, não sei até quando […] mas eu sei que é uma tradição, é uma origem que ficou da nossa família dos antepassados. Então significa prá mim essa história.[…]”
(depoimento de Maria Elza colhido por Renata Oliveira em 2009. Extraído da monografia de Renata Oliveira. OLIVEIRA, Renata Ferreira de. Resistência e Identidade Indígena na Batalha: memória e trajetória de comunidades rurais no Planalto da Conquista. Vitória da Conquista, 2009. monografia (graduação em História). Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.p.144)
Panelas fabricadas no Território indígena da Batalha, Ribeirão dos Paneleiros, zonal rural de Vitória da Conquista.
“Eu olho prá mim, olho pro meu pai, olho prás características do meu irmão, de minha mãe, olho prás pessoas que já morreu, se tem foto, e naturalmente vem a fisionomia dos nativo, da ancestralidade, mais ou menos assim que vem as características das minhas peças”.
(depoimento de Gilvandro Oliveira colhido por Renata Oliveira em 2009. Extraído da monografia de Renata Oliveira. OLIVEIRA, Renata Ferreira de. Resistência e Identidade Indígena na Batalha: memória e trajetória de comunidades rurais no Planalto da Conquista. Vitória da
Conquista, 2009. monografia (graduação em História). Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. p.144 )
Gilvandro Gonçalves de Oliveira é artista plástico, indígena paneleiro da comunidade de Batalha em Vitória da Conquista- Bahia. Licenciado em História pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, UESB.
O objetivo principal dessa página é disponibilizar um material didático acessível a professores da educação básica que queiram trabalhar com temáticas de história local.
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